Diversidade Cultural

A comemoração dos 205 anos do Museu Nacional/UFRJ: uma importante ação de divulgação científica

Alexander W. A. Kellner e Maria Gabriela Evangelista Soares da Silva, 28/06/2023

Bastante oportuna a reativação do periódico Fórum UFRJ em Revista. Uma publicação voltada para artigos e experiências no campo da divulgação científica é muito bem-vinda, e tem o grande potencial de fomentar as discussões sobre ações desenvolvidas no intuito de estimular um melhor e mais produtivo diálogo com o público.

Neste contexto, acabamos de comemorar o aniversário de 205 anos do Museu Nacional/UFRJ, mais antiga instituição científica e museal do Brasil. Fundada em 06 de junho de 1818, a instituição foi vítima de um trágico incêndio em 2018, quando acabara de completar dois séculos de existência1. Como tem sido recorrente, as comemorações são sempre realizadas de forma pública na Quinta da Boa Vista. Neste ano, o evento foi realizado no dia 04 de junho, com cerca de 3.500 pessoas, entre as quais estudantes, docentes, técnicos e colaboradores do Museu. Como tem sido sempre a tônica dessa ação, foi uma grande festa com os frequentadores do parque e o público em geral prestigiando a instituição.

As celebrações de aniversário do Museu passaram a ser realizados com o público em 2007, na comemoração dos 189 anos da instituição. O evento, inicialmente, tinha por objetivo integrar o corpo social do Museu e divulgar as atividades de ensino, pesquisa e extensão, fazendo com que o público descobrisse o Museu para além de suas exposições. Ao longo dos anos, esses eventos têm contribuído para reforçar a imagem deste Museu enquanto relevante instituição científica no campo das ciências naturais e antropológicas, que tem um compromisso com a divulgação e popularização das ciências por meio da mostra de acervos e experimentos, em uma relação dialógica com o público, propondo uma troca entre os saberes acadêmico e popular. Além disso, os aniversários do Museu funcionam como espaço para a complementação da formação de estudantes de graduação e pós-graduação através da mediação de atividades para diferentes públicos2.

Os aniversários do Museu trazem temáticas que movem a instituição e logotipos específicos para carimbar os momentos. No primeiro, o mote foi “Memória, Educação, Cultura e Ciência”. Posteriormente, adotou-se o subtítulo “Ciência, História e Cultura”, que persistiu por alguns anos. A fachada do Paço de São Cristóvão é um dos elementos visuais que se repete em grande parte das identidades visuais criadas. Em 2018, o Museu Nacional celebrou o seu bicentenário, que ficou marcado como a mais expressiva comemoração realizada pela instituição. Aproveitando o momento, além do logotipo que trouxe diferentes acervos do Museu, foi cunhada uma moeda comemorativa pela Casa da Moeda do Brasil e realizado um concurso para a criação de novo logotipo institucional. Esses elementos funcionam como suportes da memória, permitindo que os registros da celebração perdurem no tempo e no espaço.

A comemoração deste ano começou a ser planejada ainda em meados de 2022, sob a coordenação do Núcleo de Comunicação e Eventos e com a colaboração dos diferentes setores do Museu, tanto administrativos quanto científicos. O evento contou com o apoio da FAPERJ, por meio do Programa de Apoio à Organização de Eventos Científicos, Tecnológicos e de Inovação no Estado do Rio de Janeiro/ 2022; e a parceria estratégica do Projeto Museu Nacional Vive — cooperação entre UFRJ, UNESCO e Instituto Cultural Vale, pela reconstrução do Museu.

Identidade visual do aniversário de 205 anos do Museu Nacional/UFRJ | Leear Martianiano

Os 205 anos marcaram a retomada da ocupação massiva da Quinta da Boa Vista para além dos muros das sedes do Museu — Paço de São Cristóvão e Horto Botânico. Considerando a tragédia ocorrida na instituição em setembro de 2018, que interrompeu o recebimento de visitantes às exposições, com exceção de pequenas ações por parte da Seção de Assistência ao Ensino (SAE), e o período pandêmico, com maior expressão entre os anos de 2020 e 2021, a celebração do aniversário do Museu de forma presencial foi muito expressiva para instituição, por permitir o contato próximo com o público, em especial crianças e jovens, em torno de temas e atividades científicas, históricas e culturais. No mais, essa foi mais uma oportunidade para mostrar que o Museu segue atuante em suas atividades, paralelamente ao seu processo de reconstrução.

Seguindo a tradição institucional, o Museu definiu um tema de aniversário. Optou-se então pela continuidade às comemorações do bicentenário da Independência do Brasil, denominando o evento como “205 anos do Museu Nacional/ UFRJ: dois séculos de ciência no bicentenário da Independência”. A identidade visual foi desenvolvida de forma a resgatar elementos das anteriores, fazendo uma conexão entre as celebrações e mantendo o prestígio das áreas acadêmico-científicas da instituição. Dessa forma, uma colagem com peças do acervo do Museu foi disposta ao redor do Paço de São Cristóvão, que já se encontra com sua fachada principal restaurada desde a inauguração de setembro de 2022 como um dos marcos de celebração do bicentenário.

A estrutura do evento contou com duas tendas que abrigaram as 25 atividades científicas realizadas pelo corpo social do Museu Nacional/ UFRJ e uma para as atividades culturais. Também foram realizadas atividades externas, como visitas mediadas pela Quinta da Boa Vista, uma Roda de Conversa sobre subúrbios e periferias, e visitas ao Herbário, no Horto Botânico do Museu.

Atividade científica “A coleção didático-científica da SAE” | Foto: Diogo Vasconcellos (MN/UFRJ)

As atividades científicas foram realizadas pelos seguintes departamentos: Antropologia Social; Botânica; Entomologia; Geologia e Paleontologia; Invertebrados e Vertebrados. Dentre os setores, tivemos a participação da: Biblioteca Central; Biblioteca Francisca Keller, do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social; Coordenação de Extensão; Direção; Núcleo de Atendimento ao Público; Núcleo de Preservação Ambiental da Estação Santa Lúcia; e Seção de Assistência ao Ensino. Como pode ser visto, houve uma intensa participação do Corpo Social da Instituição.

As atividades científicas, propostas para público de todas as idades, envolveram jogos, pinturas, exposição e manuseio de peças do acervo, diálogos e manejo de instrumentos científicos. Podemos destacar a exposição de duas peças inéditas do Museu: o Meteorito de Santa Filomena e a escultura de representação de Xangô; a mostra de estrelas do mar e outros equinodermos vivos e secos; a apresentação de como ocorre uma expedição científica na Antártica, por meio de ferramentas, vestimentas e fósseis de animais e plantas que povoaram aquele continente há 90 milhões de anos, durante o período Cretáceo; e a exibição de peças arqueológicas que compõem o acervo do Museu, antes e depois do incêndio.

Atividade científica “Roda de conversa |Um Museu feito de gente: diálogos sobre subúrbios e periferias” | Foto: Diogo Vasconcellos (MN/UFRJ)

As atividades culturais contaram com o lançamento do livro “Confusões no Museu”, de Silvia Castro, produzido pela Editora Ogro; a apresentação do Unicirco Marcos Frota; a Roda de Jongo com o Quilombo Quilombá de Magé/RJ, seguida do Desfile de moda Gbogbo Aso — Quilombo Quilombá e Ilé Àse Ògún Àlákòró — Magé/RJ. Já o encerramento foi realizado pelo grupo de mulheres Samba Que Elas Querem. Além disso, o evento contou com a participação da Feira Junta Local.

De forma resumida, o momento foi absolutamente gratificante, e resultou também em uma expressiva visibilidade das ações da instituição. No decorrer dos anos, pretendemos não apenas realizar esse tipo de atividade, mas, também, divulgá-las na Fórum UFRJ em Revista e outros periódicos. Finalizamos não apenas agradecendo o convite para participar do presente volume, mas, também, para parabenizar a retomada deste importante veículo que divulga ações entre quem as estão elaborando, fomentando a divulgação para o corpo social das instituições, como também para o público leigo.

Notas

  1. KELLNER, A. W. A. 2019. A reconstrução do Museu Nacional: bom para o Rio, bom para o Brasil. Ciência e Cultura 71(3): 4-5 (ISSN 2317-6660; http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602019000300001). [voltar]
  2. GUEDES, F. C. C. & KELLNER, A. W. A. 2020. Ciência, História e Cultura: o Museu na Quinta da Boa Vista.  RAÍZES E RUMOS 8(1): 234-249 (ISSN 2317-7705/ 0104-7035; http://seer.unirio.br/index.php/raizeserumos/article/view/10276). [voltar]
Alexander W. A. Kellner

Diretor do Museu Nacional desde fevereiro de 2018, é paleontólogo dedicado ao estudo de vertebrados fósseis. Realizou doutorado pela Columbia University em programa conjunto com o American Museum of Natural History. Ingressou no Museu 1997. É Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências e foi admitido na classe de Comendador e Gran Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.

Maria Gabriela Evangelista Soares da Silva

Doutoranda em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO, Mestra em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia pelo Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia (HCTE), da UFRJ e servidora técnica do Museu Nacional/UFRJ, atuando como Coordenadora do Núcleo de Comunicação e Eventos.

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